sexta-feira, 6 de julho de 2012

Júlia Valentina da Silveira Lopes de Almeida


JÚLIA VALENTINA DA SILVEIRA LOPES DE ALMEIDA
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz

Em 24 de setembro de 1862, na então Província do Rio de Janeiro, nasce Júlia Valentina da Silveira Lopes de Almeida, no mesmo edifício em que funciona o internato feminino (Colégio de Humanidades) administrado por seus pais, Dr. Valentim José da Silveira Lopes, professor e médico, posteriormente Visconde de São Valentim, e D. Adelina Pereira Lopes.
A autora vive parte da infância em Campinas, São Paulo. Os pais oferecem-lhe educação diferenciada e sua mãe inicia-a no mundo das letras. O talento nato aperfeiçoa-se a partir do contato diário com a arte, a literatura e a ciência. Entre os anos de 1876 e 1878 Júlia mora em Montevidéu. 
Em 1881, aos dezenove anos de idade, Julia estreia como escritora, ao escrever para a Gazeta de Campinas, não obstante no seu tempo de juventude não se considere de bom-tom e nem do agrado dos pais, que uma mulher se dedique à literatura. No caso de Júlia, a postura dos seus pais, livres pensadores, alheios às discriminações e preconceitos, permite que transite em harmonia pelo universo feminino e masculino. 
Em 28 de novembro de 1887 casa-se com o escritor português Filinto de Almeida, à época diretor da revista A Semana, editada no Rio de Janeiro e por vários anos Júlia contribui de forma sistemática com o periódico.
Na década de 1890, Júlia Lopes escreve para os periódicos produzidos e distribuídos por mulheres, como por exemplo, o Jornal das Senhoras. Mulher a frente do seu tempo, embora o Jornal do Commercio, em 1905, noticiasse como único emprego para jovens instruídas o de professora primária, Júlia Lopes de Almeida publica ali "A intrusa", sob a forma de folhetim e em livro três anos após. Em entrevista conferida a João do Rio entre 1904 e 1905, revela sua paixão pela arte de escrever versos, mas que os faz às escondidas.
Em coluna no jornal "O País", por mais de 30 anos, discute variados assuntos e concretiza diferentes campanhas em defesa da mulher. São séries desta época, o livro Correio da roça (editado em 1913) e, entre outros contos, as Reflexões de um marido (1907).
Assume a função de presidente honorária da Legião da Mulher Brasileira, sociedade criada em 1919. Torna-se patrona da cadeira de número 26 da Academia Carioca de Letras e participa das reuniões de formação da Academia Brasileira de Letras. Indicada, exatamente por ser mulher não assume o lugar, cedendo-o ao marido, Filinto de Almeida. Em 1919 é co-fundadora, com Cassilda Martins, do jornal feminino o Nosso Jornal. Em 1922, a convite de Bertha Lutz, participa da Comissão de Relações Internacionais e Paz do I Congresso Internacional Feminista, promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Quando a Federação promove o II Congresso Internacional Feminista, em julho de 1931, na cidade do Rio de Janeiro, é Júlia Lopes - considerada a mulher de maior prestígio no meio cultural de todo o país - quem profere o discurso de abertura. Momento particularmente significativo, porque as mulheres da sociedade organizam-se para obter o direito de voto, o que se concretiza em 1934.
No entanto, independente de todas as conquistas, percebe-se o quanto a autora é ainda discriminada. Como bem ressalta Nadilza Moreira, enquanto para os homens a profissão de escritora é considerada rentável e respeitável, para as mulheres o ato de escrever é visto como um ato de rebeldia que expõe a escritora ao ridículo, à mofa e a dessexualiza. Sendo casada sujeita o marido a situações constrangedoras, e se tem filhos é tida como negligente na missão de mãe. Em decorrência, muitos artigos Julia assina sob os pseudônimos A. Julinto ou Ecila Worms. Sobre esta atitude Darcy França Denófrio esclarece: “Fadada ao anonimato e ao silêncio, vivendo em reclusão, propriedade do pai e depois do marido, escrevendo às escondidas e mais tarde com sentimento de vergonha, a mulher assumiu, com frequência, pseudônimos masculinos ou tentou, de alguma forma, ocultar a sua identidade no discurso.”
Essa subtração de si mesma expõe a saga da mulher rumo ao lugar de poder, num momento social em que não lhe é permitido expressar outras habilidades que não sejam as tarefas domésticas. Não obstante, vence o talento. Júlia, para além de se tornar reconhecida profissionalmente na área da Literatura, abre espaço para as próximas escritoras brasileiras.
Ressalta-se que sua coletânea de contos Ânsia Eterna, 1903, passa pela influência de Guy de Maupassant e uma das suas crônicas inspira Artur Azevedo ao escrever a peça "O dote". Em 1932, sob a colaboração de Felinto de Almeida, seu marido, escreve em folhetim do Jornal do Comércio seu último romance "A casa verde". Morre dois anos depois, em 30 de maio de 1934, na cidade do Rio de Janeiro.
A produção literária da autora abarca mais de 40 volumes nas quais se incluem romances, contos, literatura infantil, teatro, jornalismo, crônicas e obras didáticas. Sua criatividade produz obras-primas do realismo nacional, entre estes A Falência (1892), A Viúva Simões (1902), nas quais prova conhecer muito bem os caminhos tortuosos da vitória.
REFERÊNCIAS
DENÓFRIO, Darcy França. In: OLIVEIRA, Helena R. O círculo de três pontas: as relações de gênero em As três Marias, Dôra, Doralina e Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz. Brasília. Tese de Mestrado. 2000.
LOPES, Maria Angélica Guimarães. A coreografia do desejo: cem anos de ficção brasileira. Cotia: Ateliê Editorial, 2001. 113 p.
MOREIRA, Nadilza M. B. Júlia Lopes de Almeida e o universo feminino, carioca e burguês em Livro das noivas. Revista Temas em educação, nº 1, João Pessoa: Universitária/UFPB, 2002.
VIEIRA, Marly Jean de Araújo P. A literatura feminista de Júlia Lopes de Almeida. In: ANAIS DO XIV SEMINÁRIO NACIONAL MULHER E LITERATURA: V Seminário Internacional Mulher e Literatura.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz

Nenhum comentário:

Postar um comentário